Dividendos não importam!

Para o investidor comum, os dividendos quase se tornam um símbolo de status. Quanto mais dinheiro ele recebe em forma de dividendos, melhor é considerada sua carteira de investimentos. Embora a sensação de receber dividendos seja maravilhosa, eles não são tudo aquilo que parecem ser.
O conteúdo é meramente informativo e não deve ser interpretado como conselho de investimento, análise ou recomendação.

Dividendos são a parcela dos lucros que uma empresa paga aos seus investidores. Eles representam uma forma de remunerar os acionistas pelo capital disponibilizado à empresa. O retorno de um investimento em ações é composto pelo fluxo de dividendos e pela valorização da ação ou participação na empresa. Devido à sensação de receber dinheiro 'de graça', os dividendos são geralmente preferidos tanto por investidores comuns como por investidores profissionais. No entanto, é importante destacar que os dividendos não são necessariamente tudo aquilo que parecem ser!

1. Dividendos não geram riqueza.

Ao receber dividendos, você, como acionista, pode ficar feliz ao olhar para sua conta bancária, mas, ao mesmo tempo, infeliz ao olhar para o preço da ação. Isso ocorre porque o dividendo pago é descontado do valor da ação, e a ação passa a ser negociada 'ex dividendos'. Essa situação faz sentido: por que um investidor racional pagaria mais por um negócio que acabou de distribuir milhões de reais em forma de dividendos? Com a conta bancária da empresa esvaziada, seu valor de mercado diminui.

Em 1961, os economistas Franco Modigliani e Merton Miller mostraram que a política de dividendos de uma empresa não afeta o retorno da ação da empresa. Desconsiderando aspectos tributários e custos de transação, o investidor racional não deveria se importar com dividendos, mas sim com o lucro da empresa. Pelo seu trabalho, os dois economistas foram até premiados com o Nobel.

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2. Dividendos atrapalham o crescimento!

Empresas focadas em distribuir dividendos podem comprometer as oportunidades de crescimento futuro para atender aos pagamentos e, consequentemente, manter os acionistas satisfeitos. A busca por altos dividendos coloca pressão sobre a gestão para distribuir os lucros da empresa. Isso pode resultar em recursos limitados disponíveis para investir em projetos de expansão, pesquisa e desenvolvimento, prejudicando o potencial de crescimento da empresa a longo prazo. O futuro é canibalizado em favor do presente.

Um exemplo de uma grande empresa que nunca pagou dividendos é a Amazon. Até hoje, nenhum acionista dessa gigante do e-commerce recebeu um centavo em forma de dividendos. No entanto, dificilmente alguém pode reclamar do retorno obtido com o investimento na empresa. Outros exemplos de empresas bem sucedidas que nunca pagaram dividendos são Netflix, Berkshire Hathaway e Google.

Um caso brasileiro que mostra essa ideia é a empresa PRIO3. Em vez de distribuir dividendos, a empresa concentrou-se na reestruturação e na geração de resultados. Os acionistas foram remunerados com o aumento do preço das ações, refletindo o crescimento e a valorização da empresa.

3. Dividendos não são uma forma eficiente de remunerar os acionistas!

Os dividendos são geralmente considerados ineficientes do ponto de vista tributário. No Brasil, a análise é mais complexa, pois, em vez de tributar a distribuição de lucros e incentivar o reinvestimento, o país opta por tributar a empresa. Como contrapartida, a retirada de lucro via dividendos é isenta de impostos, pelo menos para empresas brasileiras. No entanto, quem é residente fiscal no Brasil e investe em empresas no exterior não tem a mesma sorte. A Receita Federal cobra imposto sobre os dividendos pagos por empresas estrangeiras, podendo chegar até 27,5% sobre os dividendos recebidos. Essa alíquota é quase o dobro da alíquota de imposto sobre o ganho de capital, que atualmente está em 15%. Essa divergência entre a tributação de dividendos e o ganho de capital cria uma oportunidade de poupar tributos. Ao focar no ganho de capital, é possível obter uma tributação menor.

4. Dividendos não são um indicador de saúde financeira da empresa!

Dividendos não são necessariamente um indicador confiável de saúde financeira de uma empresa. A distribuição de dividendos pode fornecer informações limitadas sobre as finanças da empresa e suas perspectivas futuras. Embora muitos investidores acreditem que empresas que pagam bons dividendos são estáveis e lucrativas, pesquisas acadêmicas mostram que os dividendos, por si só, não são determinantes para avaliar a saúde financeira de uma empresa.

Empresas às vezes podem se sentir forçadas a aumentar seus dividendos mesmo quando enfrentam uma situação financeira delicada, o que pode ser enganoso para os investidores. Da mesma forma, empresas com boas perspectivas de crescimento e lucratividade futura frequentemente optam por não pagar dividendos e, em vez disso, direcionam os recursos para investir em oportunidades de expansão.

Confiar cegamente nos dividendos como único critério para avaliar a saúde financeira de uma empresa é certamente um erro.

5. Focar em dividendos resulta em menos diversificação.

Ao se concentrar exclusivamente em empresas que pagam altos dividendos, os investidores podem perder oportunidades de investir em empresas menores e com alto potencial de valorização. Empresas em estágios iniciais ou em setores emergentes, como empresas de tecnologia, frequentemente optam por reinvestir seus lucros em pesquisas, expansão de mercado e inovação, em vez de distribuir dividendos.

Ao restringir o universo de investimentos apenas às empresas que são boas pagadoras de dividendos, os investidores podem deixar de investir em empresas que muitas vezes estão na vanguarda do avanço tecnológico. A distribuição de dividendos e o investimento no avanço tecnológico raramente se combinam.

Para exemplificar, um estudo realizado pela Dimensional Fund Advisors nos EUA analisou o impacto da diversificação de uma carteira excluindo empresas que pagam dividendos. O estudo constatou que apenas 43,9% das empresas nos EUA pagam dividendos, enquanto globalmente esse número sobe para 59,7% das empresas.

 

6. Investir somente em empresas que pagam dividendos pode aumentar o risco da sua carteira.

Uma análise simples do Drawdown máximo pode ser feita ao comparar empresas pagadoras de dividendos com o mercado, usando ETFs como o DIVO11 e o BRAX11.

O termo 'Drawdown' é utilizado no contexto de investimentos para descrever a queda ou declínio de um investimento em relação ao seu pico anterior. Em outras palavras, é a diferença entre o valor máximo alcançado por um investimento e o valor mínimo subsequente antes de começar a recuperação

Line Chart Example

O exemplo mostra que o Drawdown máximo é superior para o ETF composto por boas pagadoras de dividendos. O ETF DIVO11 é um fundo de índice negociado na bolsa brasileira que busca replicar o desempenho do índice IDIV (Índice Dividendos), composto por empresas listadas na B3 que são conhecidas por terem uma política consistente de distribuição de dividendos. O objetivo do DIVO11 é oferecer aos investidores uma exposição diversificada a empresas pagadoras de dividendos no mercado brasileiro.

Por outro lado, o ETF BRAX11 é um fundo de índice que busca replicar o desempenho do índice IBrX-50, composto pelas 50 ações mais negociadas na bolsa brasileira. O BRAX11 oferece uma exposição ampla e diversificada ao mercado de ações brasileiro, incluindo empresas de diferentes setores e com diferentes políticas de distribuição de dividendos."

Nesse contexto, o Drawdown máximo é maior no ETF DIVO11, composto por empresas focadas em dividendos, pois pode ser mais afetado por quedas acentuadas nos preços das ações das empresas que priorizam a distribuição de lucros em detrimento do crescimento. Por outro lado, o ETF BRAX11, mais diversificado em termos de setores e políticas de dividendos, pode apresentar um Drawdown menor em comparação ao DIVO11. Essa diferença destaca a importância da diversificação na gestão de riscos em uma carteira de investimentos.


7. Ilusão de segurança

Dividendos criam a ilusão de um pagamento seguro e isolam mentalmente o investidor do risco do mercado de ações. O preço das ações parece menos importante, uma vez que o pagamento do dividendo é garantido. No entanto, essa visão sobre dividendos é equivocada. É fundamental entender que uma empresa só consegue manter o pagamento de dividendos enquanto está gerando lucros consistentes. Além disso, como já estabelecido, o dividendo por si só não é uma métrica adequada para medir a saúde financeira da empresa.

A separação mental entre o capital investido e o retorno em forma de dividendos, embora possa parecer reconfortante, deve ser evitada. É importante para os investidores lembrarem que o valor das ações e o desempenho da empresa no mercado são fatores críticos que afetam a viabilidade e sustentabilidade dos pagamentos de dividendos. Investir apenas com base nos dividendos pagos sem levar em conta a saúde financeira da empresa e o seu potencial de crescimento pode ser arriscado e levar a decisões de investimento inadequadas.

No final dividendos importam?

Embora seja popular, investir em boas pagadoras de dividendos somente pelo dividendo não pode ser justificado nem pela análise dos números e nem por argumentos lógicos. Dividendos não geram riqueza para o investidor. Mas, se você gosta de receber dividendos e é importante para você, continue! Nem tudo precisa ser racional. Evitando erros maiores, o que mais importa ao investir é manter a consistência. E, dividendos podem ter um papel fundamental em estimular o investimento - mesmo que não seja racional.

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